Um latido

Ela dirigia por uma estrada desconhecida, o carro que dirigia era desconhecido também e mais tarde perceberia que muitas coisas eram desconhecidas.
Chegou em uma fazenda, ufa, seus irmãos. Aliviada, desceu do carro e foi conversar com eles, pedia por uma mochila: - Onde está minha mochila? Tenho que ir trabalhar.
Sua mãe a convidou a entrar, uma casa - desconhecida - mas muito bonita, muitos cômodos, colorida, parecia um lar feliz. A jovem senhora foi logo explicando que ela não trabalhava mais, apenas estudava, fazia faculdade. - Faculdade? Mas eu já sou formada! Explicou a menina que não entendia nada, que estava cada vez mais perdida.
Um mochila lhe foi entregue, mas no lugar de suas coisas, estavam somente canetas com adesivos com seu nome e o nome do seu (segundo sua família) noivo.
- Do que aquela mulher está rindo? Perguntou, referindo-se a uma senhora de cabelos pintados no canto da cozinha.
- Ela está feliz, fez sexo essa semana. Informou alguém.
- Mas e daí? Ela nunca tinha feito sexo antes?
- É que depois da tal lei do sexo imposta pelo governo só podemos fazer sexo 5 vezes por ano.
- Governo, que governo? Em que ano estamos?
- 2022. E agora cada ano tem só 6 meses.
- Mãe, por favor, quero minha vida de volta!
- Essa é sua vida, é hora da Faculdade, pega tua mochila e vai... Teu noivo está te esperando!
Um latido... um latido lá fora fez com que a menina acordasse.
Abriu os olhos e viu o teto branco, a TV, o computador, as roupas atiradas na cadeira, o all star ao lado da cama. Sorriu...

Só queria ser feliz

"... tenho uma coisa apertada aqui no meu peito, um sufoco, uma sede, um peso, não me venha com essas história de atraiçoamos-todos-os-nossos-ideais, nunca tive porra de ideal nenhum, só queria era salvar a minha, veja só que coisa mais individualista elitista, capitalista, só queria ser feliz."
(Caio Fernando Abreu)